Liberdade



Com a participação do artista:
Carlos Farinha.


texto por Márcia R. Teixeira,

25 de Abril
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen, in “O Nome das Coisas”



Hoje, falamos de autonomia, consciência, conquistas, direitos, expressão, individualidade, opinião e pensamento. Hoje, falamos de algo precioso à condição humana, e no entanto, tão frágil. Hoje, falamos de liberdade.


A liberdade que temos hoje não nos foi dada, é uma liberdade conquistada por aqueles que da opressão se fartaram, por aqueles que ganharam coragem e lutaram por todos nós. A liberdade que hoje temos não é garantida, é como uma paz comprada que necessita constantemente de ser lembrada.


A maior fragilidade da liberdade advém do esquecimento, aquele que abre portas à opressão, à censura, ao “Aljube” e ao “Lápis Azul”, a cenários de repressão política e à falta de liberdade de expressão. Através de pinturas figurativas marcadas por um forte carácter social, Carlos Farinha transforma o espaço num percurso histórico, guiando o espectador pela história que deu a todos nós o direito de sermos livres. Leva-nos ao “Largo do Carmo”, à luta dos cravos, ao “1o de Maio” e ao “Sufrágio” aludindo às conquistas de abril e relembrando-nos que a revolução não se fez num só dia, houve muito antes e muito depois do 25 de abril. Estes marcos históricos lembram-nos que todos os dias são dias de liberdade, da sua conquista e preservação.


Se o maior inimigo da liberdade é o esquecimento, o artista não nos deixa esquecer, e ainda bem.


Há 50 anos tiraram os quadros da parede e pousaram-nos no chão, um gesto à partida tão simples e no entanto tão significativo. Um gesto que permite a todos nós, hoje, colocar na parede o que quisermos, sem restrições, ou impedimentos impostos por outros. E, relembrando hoje o passado, seguimos em frente com a convicção de que não queremos regressar.

Obras: